Entenda a Epicondilite, popularmente conhecida como dor no cotovelo.
A epicondilite é a causa mais comum de dor no cotovelo em adultos, e leva milhares de pessoas anualmente aos consultórios médicos. A estimativa é que cerca de um milhão de novos casos* surjam todos os anos nos Estados Unidos. Um número bastante expressivo.
Encontramos as primeiras descrições desta doença na literatura germânica de 1873, feitas por um autor chamado Runge. Um século mais tarde, em 1882, o pesquisador Morris retratou uma condição dolorosa do cotovelo que acometia jogadores de tênis de grama, a qual denominou “lawn tennis arm” (braço do tênis de gramado). A patologia passou, após alguns estudos, a ser mundialmente conhecida como “tennis elbow” (cotovelo de tenista). Começavam ai os estudos para o entendimento da epicondilite.
A epicondilite pode afetar duas regiões do cotovelo
A estrutura anatômica que fica acometida nesta doença, é a origem dos tendões dos músculos do antebraço. E são dois os grupamentos principais que executam os movimentos dos dedos, mão, punho e antebraço:
- lateral: extensores do punho e dedos, e supinador do antebraço.
- medial: flexores do punho e dedos, e pronador do antebraço.
Essas são as duas porções afetadas com a epicondilite e, dependendo de que lado estamos falando, ela será chamada de epicondilite lateral, ou epicondilite medial.
Quer entender um pouco melhor como funciona? Faça um teste!
- Apoie o seu punho direito sobre a mesa.
- Com a mão esquerda, segure seu cotovelo direito por cima.
- Agora, faça força para levantar o 3o dedo da mão direita (o famoso “dedo do meio”).
Consegue sentir os tendões movimentado logo abaixo dos seus dedos da mão esquerda? Então, estes são os tendões acometidos na epicondilite lateral, e o movimento que você está executando é a extensão dos dedos.
Agora que já entendeu a anatomia da região afetada, vamos aprofundar um pouco mais o assunto…
É correto afirmar que a epicondilite é uma tendinite?
Não, isso não é correto. Eu explico: em diversos estudos realizados até os dias atuais, não foi encontrada qualquer evidência de processo inflamatório que pudesse ser classificado como tendinite (tendin=tendão + ite=inflamação).
A lesão que ocorre nestes tendões, e que gera a dor, é resultado da aplicação de tração continua por repetição, levando a microrrupturas locais, seguido de acúmulo de tecido de reparação tecidual (fibrose e tecido de granulação). A repetição de carga cíclica neste tendão machucado, e sem cicatrização completa, acaba levando a uma degeneração tecidual, com destruição do colágeno local e falha da reparação tecidual normal.
Por esse motivo, que a mudança de comportamento e atividade do dia a dia, com repouso dos tendões acometidos, é tão importante para a recuperação completa.
“Eu sei, meus pacientes costumam dizer que isso é muito difícil, mas existe algo que pode fazer a respeito!”
Há quem acredite haver dois grupos distintos de pacientes que sofram de epicondilite. Um grupo é formado por jovens que praticam atividades físicas intensamente. São atletas ocasionais ou profissionais que têm em comum o sobreuso em esportes como tênis, squash, paddle, golfe ou em academia. Estima-se que até metade desses sofrerão de epicondilite ao menos uma vez na vida.
O outro grupo corresponde a cerca de 95% dos casos de epicondilites, e é representado por pessoas entre 35 e 55 anos que exercem movimentos de repetição e/ou esforços intensos isolados. Os sintomas começam de forma leve e vão piorando gradativamente, até um ponto em que uma atividade muito simples, como levantar uma xícara de café, passa a ser muito penosa. Entram nesta lista os dentistas, professores, digitadores em geral, carpinteiros, pedreiros, médicos cirurgiões etc.
A primeira coisa que você deve fazer é identificar se enquadra em algumas dessas situações. Conhecer os riscos já é uma forma de prevenção. Além disso, existem algumas mudanças de comportamento que são muito importantes: realizar exercícios de alongamento regularmente, aquecimento antes das atividades esportivas, repouso para recuperação dos esforços realizados no dia anterior e, modificação de postura e movimentos no trabalho.
Como o assunto é extenso, falarei – nas próximas duas semanas – sobre os dois tipos de epicondilite: lateral e medial. Nos conteúdos serão abordados os sintomas, os diagnósticos e algumas opções de prevenção e tratamento. Lembrando aqui, que para cuidar da sua dor no cotovelo é importante procurar um profissional de saúde.
Se você tem alguma dúvida, deixe seu comentário. Respondo tão logo seja possível.
*Nirschl RP 2015 – The epidemiology and health care burden of tennis elbow: a population-based study.